Naturologia - Cuidado Integral com o Ser Humano
- Texto por: Lúcia Fernandes Bonito
- 5 de mar. de 2016
- 6 min de leitura

Os modelos atuais de saúde já não satisfazem as necessidades da maioria da população.
Será que toda vez que falamos de saúde temos que falar centradamente na doença? Tratar uma doença que aparentemente vem do além e some com um remédio mágico? Trocar o cuidar de um ser humano para cuidar de um sintoma? Tudo bem, uma dor de cabeça incomoda, o remédio alivia, ninguém quer ter dor de cabeça... “Como é a sua dor de cabeça? é pulsante? é constante? Quantas vezes por dia? Vamos fazer de tudo para que sua dor de cabeça suma - a qualquer custo, afinal ninguém quer ter dor de cabeça, vou receitar esse remédio X e você toma antes de dormir todos os dias, ok?”
Isso quando é dor aguda, quando a dor é crônica temos duas opções após o exame laboratorial (nunca se tem opção antes disso). Se apareceu alguma mudança significativa no exame, taca-lhe remédio e a autocomiseração para levantar o troféu orgulhosamente: “eu estou doente”! Se não apareceu mudança significativa, você não está tão doente assim. É coisa da sua cabeça, você pode voltar a trabalhar amanhã... próóóóximo!
Faltam recursos, faltam profissionais... falta tudo. É a crise, é o governo, a verba que não veio... São 100 pacientes para 1 profissional atender no período da manhã. É o caos e ninguém pode negar. Mas quando deixam faltar o que é mais importante, ai o bicho pega! O que falta é: a empatia pelo ser humano.
Na faculdade, todo profissional de saúde aprende que tudo pode influenciar na saúde humana. O ambiente, a cultura, os recursos financeiros, o ambiente de trabalho... Mas no consultório, na hora do rush que é onde ele precisa aplicar aquele conhecimento tão sagrado. Ai não... ai é só o “agente causador”, o culpado e o tratamento. É o problema simplificado e a porca solução. Se o Reginaldo é hipertenso, vou perguntar o que está no script já fabricado. É o procedimento operacional padrão da saúde... “A alimentação é ruim? O sono é ruim? É sedentário? Ah então beleza. Se enquadra no que está descrito na literatura, é hipertenso. Sr. Reginaldo, começar a comer melhor, dormir mais e faz atividade física ok? Mantenha a medicação.. próóóóximo. “ A pressão do Reginaldo subiu mais um pouco depois desse atendimento pois ele já estava farto e não sabia o que fazer. O casamento foi abaixo, a empresa dele está falindo, ele tem 48 anos e se sente frustrado por não ter mais a energia que tinha aos 20 anos, está tão sobrecarregado que se tem tempo para comer, ele come a primeira coisa que vê na frente para não definhar de vez. Ele odeia academia, as contas estão apertadas não dá para pagar o pilates, nem a hidroginástica, e mesmo que desse... e o tempo? Ele precisa fazer exercícios, o médico exigiu, ele só melhora se comer, dormir e se exercitar. A atividade física se torna mais um fardo e realizá-la na obrigação o deixa mais nervoso e impaciente. O remédio que ele precisa tomar começou a dar sono. Se antes estava difícil de mudar os hábitos, agora está mais ainda. Demorou 2 meses para retornar à consulta com o médico. Quando finalmente foi atendido o médico bateu o olho nos exames, viu que não estava melhorando como esperado: “Vamos aumentar a dosagem do medicamento” o médico falou depois do esporro motivacional sobre os hábitos saudáveis padronizados.
Após 2 anos, o novo médico - que já não é o mesmo de antes pois o plano de saúde ofereceu péssimas condições e quando o profissional cobrou melhorias do seu direito, a vaga ficou para quem aceitava trabalhar na semi-escravidão (...) - encaminhou o Sr. Reginaldo para a psiquiatria, pois notou um tal de Transtorno Explosivo Intermitente quando o Sr. Reginaldo farto do sistema deu um ataque violento no consultório quando o médico propôs mais 4 medicamentos (agora para diabetes tipo II, labirintite e a dor nas costas) e deu uma versão inovadora do esporro motivacional de hábitos saudáveis padronizados.
Lá no bairro, atualmente passado uns 6 anos, o Sr. Reginaldo é tão coitado, coitadinho perdeu tudo, esposa, emprego... Mora de favor com a filha. Também conhecido como doido do bairro, toma umas medicações pesadas e não consegue mais nem conversar com alguém, ele ouve mas não entende... mas sempre fala umas coisas engraçadas, sem pé e nem cabeça. Também adquiriu uns tiques nervosos esquisitos... Coitado do Sr. Reginaldo, tem tudo e um pouco mais.. foi diagnosticado de um monte de coisa e é tudo culpa da Dilma e do Lula que a saúde é uma bosta nesse país. É a corrupção. É também culpa do Aécio que desviou 14 bilhões da saúde. (...)
É nessa quebra de paradigma (modelo biomédico - centrado na doença) que a Naturologia aparece para reforçar que precisamos sim de um novo modelo que integre, complemente e inove essa visão limitada que temos quando falamos de saúde.
Como seria se o Sr. Reginaldo em sua primeira consulta fosse “ouvido”?
“Blábláblá é placebo, não estudei anos para conversar” “Deixar a pessoa falar não resolve o problema” “Vem, me mostra então a pesquisa cientifica que fala que os problemas do Reginaldo desaparecerão se eu parar 20 minutos para ouvir aquela lenga-lenga” “É um absuuuurdo! Quem ouve é psicólogo, não faz parte da minha área de atuação, não posso usar a ferramenta “conversa” como ferramenta de trabalho.” Só vai no psicólogo quem é louco e o Sr. Reginaldo não quer aceitar que é louco só para poder falar que a vida dele tá difícil e ele precisa de ajuda. Até o corpo dele encontrou uma forma de falar que precisa de ajuda quando a pressão aumenta e ele chega nos limites. O corpo tenta encorajar, sinalizando que as coisas não estão bem e que ele precisa parar e dar atenção para vida dele, mas toda vez que ele tenta, encontra profissionais não preparados, cortadas, esporros motivacionais e julgamentos.. O caminho é o remédio. Cadê esses cientistas incompetentes que não criaram ainda o remédio milagroso para isso. Cadê? Tá vendo, é o governo que não investe em estudo! (risos)
Ok. Agora falando sério. O Sr. Reginaldo é fictício, tudo no caso acima tem um pouquinho de exagero, mas tem muito de verdade sobre a realidade dos brasileiros e a atenção à saúde. É problemático, burocrático e mais problemático. O médico não é o monstro da história, existem profissionais bons e ruins, mas o problema mesmo está no modelo de saúde proposto que vê o ser humano como uma máquina de processos (estímulo e resposta) e não como um ser vivo, complexo, que estabelece diversas relações interna e externamente. Nada tão preto no branco, nada tão simples quanto 2 + 2. Mas nada tão complicado assim.
A Naturologia é o tal remédio milagroso para a situação da saúde nesse país? Não, não é. Então para quê a Naturologia existe? Para formar profissionais capacitados para entender a complexidade do indivíduo, enxergar de um panorama generalista e fazer os links. Para utilizar ferramentas que não tragam mais danos (efeitos colaterais). Capacitado para as chamadas práticas integrativas e complementares (acupuntura, meditação, floral, massoterapia, aromaterapia, cromo, etc).
É o naturólogo que vai ajudar nessa questão de “consciência” de transformar hábitos de vida (sem o esporro motivacional doloroso) e sim com respeito, dignidade, cordialidade e humanismo – respeitando o tempo e o processo de evolução de cada indivíduo. É ele que é formado para ouvir uma pessoa sem medo de invadir a reserva de mercado de outra área profissional, porque o Naturólogo sabe que não é Deus e precisa sim do psicólogo, do médico, do nutricionista, do enfermeiro, do quiropraxista... enfim. Mas também sabe que precisa conhecer aquele ser humano e criar uma relação de interagência se quiser fazer alguma mudança positiva.
Assim que levantar a história daquela alma que veio lhe procurar auxílio, vai compreender quais são as suas verdadeiras necessidades, ou pelo menos qual a área em que há prioridade, e vai trabalhar junto com os demais profissionais de saúde. Também não se assuste se o naturólogo chamar um profissional da exatas para ajudar no tratamento por exemplo. Isso se chama transdisciplinaridade e também faz parte da formação do Naturólogo. É bom ter outras visões. É bom olhar de vários ângulos e juntos, nos unirmos para alcançar o nosso objetivo quando ingressamos na jornada de profissional de saúde: cuidar da saúde, promovê-la e trazer qualidade de vida para quem nos procura, procurando despertar desenvolvimento e autonomia.
Quando tratamos de um ser humano e queremos oferecer qualidade à sua saúde. Não precisamos usar restritamente as ferramentas específicas da área de saúde. Dependendo das circunstâncias o melhor tratamento que podemos indicar é convidar o nosso paciente/interagente para fazer uma aula de dança.
O que é melhor para ele, naquele momento, só vamos descobrir se o ouvirmos, sem julgamentos e sem pré-análises. Esse é o primeiro passo para uma jornada terapêutica integral. Aquela, que vamos construir junto com o paciente. Cada jornada é autêntica, é única.
Não sei vocês, mas esse modelo me agrada muito. O modelo centrado na vida. Com ciência, mas com emoção. Com responsabilidade, mas com diversão. Saber das teorias e aplicá-las de forma humana - principalmente quando envolvemos humanos. O principal do modelo de saúde que é centrado na vida, é perceber que não tem algo dentro e algo fora... tudo faz parte. Se você fizer uma mudança significativa, ela automaticamente irá influenciar as outras áreas relacionadas. Complicado? Não. Complexo! Realista? Sim, o que te faz repensar na utopia do “remedinho” milagroso que eliminará todos os problemas do mundo (p.s. e que não tenha efeito colateral).
Keep Calm e procure o naturólogo.
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